
A vida de Davi ensina-nos que a humildade de espírito é marca indispensável do caráter do servo do Senhor.
INTRODUÇÃO
- A humildade de espírito é a principal virtude que vemos na vida de Davi. Durante os vários episódios de sua vida que são narrados nas Escrituras Sagradas, percebemos que Davi sempre foi uma pessoa que se fez dependente do Senhor, que sempre procurou saber e cumprir a vontade de Deus em todas as suas atitudes. Mesmo nos erros cometidos, quando Davi deixou-se levar pela sua própria vontade, percebemos quão forte era este sentimento na sua vida, pois, ao contrário de outras personagens bíblicas, Davi demonstrou grande desprendimento e, tão logo descoberto, no caso de Bate-Seba, ou mesmo após a consumação do erro, no caso da contagem, não resistiu à voz do Espírito Santo e se arrependeu dos pecados, confessando-os publicamente e os deixando de cometer dali em diante.- Iniciamos, nesta lição, o estudo de algumas personagens bíblicas com o objetivo de não só conhecer algumas vidas de homens e mulheres de Deus, mas, sobretudo, de, em suas biografias, colher lições de como podemos construir um caráter cristão, pois é este o propósito deste trimestre.
- Davi, o grande rei de Israel, o ascendente do Messias, foi escolhido por Deus porque era um “homem segundo o coração de Deus” (I Sm.13:14). Ser segundo o coração de Deus é ter, sobretudo, humildade de espírito. Não é por acaso que o Senhor Jesus põe esta característica em primeiro lugar ao elencar as qualidades dos Seus discípulos (Mt.5:3).
I – A BIOGRAFIA DE DAVI (I): DAVI, O PASTOR DE OVELHAS E PAJEM DE ARMAS
- Neste trimestre, temos o estudo de algumas personagens bíblicas. Como nosso propósito nestes estudos é suplementar o comentário oficial das Lições Bíblicas, entendemos que seria redundante retomarmos pura e simplesmente a linha de pensamento do ilustre comentarista. Decidimos, então, nestas lições, tomar um caminho alternativo, baseado em um esquema que, quanto possível, procuraremos seguir: o de apresentar uma sucinta biografia da personagem, situando-a no tempo e no espaço; em seguida, analisaremos alguns episódios marcantes desta vida, vendo o que podemos aprender a fazer e a não fazer diante desta história. Por fim, ante o objetivo do trimestre que é o de aprendermos com estas personagens na construção do nosso caráter, faremos, se houver necessidade, uma breve análise da virtude enfatizada pelo ilustre comentarista e de que como podemos obtê-la para termos um verdadeiro crescimento espiritual.
- Davi foi o segundo rei de todo o Israel entre cerca de 1016 a 976 a.C., tendo provavelmente assumido o trono com trinta anos de idade, o que faz com que sua data de nascimento seja estabelecida por volta de 1046 a.C. Seu nome significa “amado” ou “predileto” e, segundo o site www.iremar.com.br, “significa predileto, amado e indica uma pessoa que aproveita todas as oportunidades de sucesso que surgem mostrando competência e dedicação.”
(http://www.iremar.com.br/index.php?q=Davi&con=conexao&inc1=header&inc2=footer&banner=rodape&site=nomes Acesso em 24 maio 2007).
- Davi surge na história sagrada, pela vez primeira, no livro de Rute, onde o autor (que a tradição diz ter sido o profeta Samuel), anuncia que o neto de Obede, filho de Rute e Boaz, seria o rei Davi (Rt.4:17,22). Sua história, porém, é relatada nos livros de Samuel e nos primeiros livros de Reis e de Crônicas.
- Davi era da tribo de Judá, tribo esta que, naquela altura da história de Israel, em que pesasse a bênção de Jacó que lhe prometia a supremacia (Gn.49:10), bem como a vida fiel de Calebe e a sua densidade populacional, havia vivido mais ou menos marginalizada no meio do povo de Deus, tanto que não fornecera qualquer liderança nacional até então.
- Quando surge na história sagrada, Davi é apresentado como o filho caçula de Jessé, filho de Obede e neto de Boaz e, portanto, pelo que vemos do relato do livro de Rute, um grande proprietário de terras na tribo de Judá. Sendo o filho mais novo, porém, Davi não tinha qualquer posição de realce na sua família. Seus irmãos, além de mais velhos, eram pessoas fortes e robustas que, por isso mesmo, haviam sido selecionadas por Saul, o primeiro rei de Israel, para servirem como seus soldados (cf. I Sm.8:11). Tanto assim é que Samuel, ao ver o primogênito de Jessé, Eliabe, logo se convenceu que estava diante do escolhido do Senhor, dado o seu porte físico (I Sm.16:6,7).
- Davi trabalhava como pastor de ovelhas(I Sm.16:11) e, neste seu trabalho, sem que muito provavelmente seu pai e seus familiares o soubessem, agia com dedicação e zelo, visto que, apesar de ser pequeno, pôs sua vida em risco para proteger o seu rebanho (cf. I Sm.17:34-36). Esta dedicação, este sentimento de compromisso com a tarefa que lhe havia sido cometida pelo seu pai foi um dos fatores que levou o Senhor a escolhê-lo para a tarefa de reinar sobre Israel.
- Devemos, desde já, verificar que a consciência do compromisso assumido, que a disposição para cumprir com as tarefas que são cometidas por quem de direito é um traço de caráter indispensável para quem quer servir a Deus. Davi foi chamado por Deus como “um homem segundo o coração de Deus” (I Sm.13:14), precisamente porque, no silêncio, no anonimato, fazia questão de honrar o compromisso de cuidar do rebanho que lhe fora confiado. Este mesmo sentimento de dedicação e de consciência do compromisso nas mínimas coisas continua a ser observado por Deus, que conhece os corações (I Sm.16:7 “in fine”). Jesus fez questão de lembrar, na parábola dos talentos, que um requisito para que alguém alcance o gozo do Senhor é o de ter sido fiel sobre o pouco (Mt.25:21,23). Por isso, o profeta nos aconselha a jamais desprezarmos o dia das pequenas coisas (Zc.4:10a). A dedicação de Davi era tanta que seu pai, mesmo sem sequer saber onde se encontrava o pequeno, sabia que ele estava a apascentar as ovelhas, tanto que não houve dificuldade em achá-lo (I Sm.16:12).
- Esta dedicação e este compromisso são, pois, fatores importantíssimos aos olhos do Senhor. Davi era um homem agradável a Deus por causa deste seu comportamento. Não foram as guerras que fizeram Davi agradável ao Senhor, nem tampouco os salmos ou os esforços em prol da obtenção de materiais para o templo, mas, sim, este sentimento de serviço, de submissão. Este foi o fator que fez com que Deus escolhesse a Davi. E nós, será que temos este mesmo sentimento? Jesus, o Filho de Davi, tinha-o, como nos mostra o apóstolo Paulo (Fp.2:5-8) e o escritor aos hebreus (Hb.10:7-9), que, de resto, apenas confirmam aquilo que o próprio Senhor publicamente afirmou (Mt.5:17), sendo testificado pelo Pai (Mt.3:17). Estamos imitando a Cristo? Temos aprendido esta lição com Davi?
- Mas, além de uma vida de dedicação e de compromisso, Davi tinha também uma vida de adoração. Em I Sm.16:18, é dito que um dos mancebos que serviam ao rei Saul lhe falou a respeito de Davi, que era uma pessoa que sabia tocar e que Deus era com ele. Este “saber tocar bem” não só nos fala do conhecimento técnico de Davi, mas, sobretudo, de sua vida espiritual, afinal de contas, pelo que nos mostra o contexto, estava-se a procurar alguém que “Deus fosse com ele”, a fim de expulsar o espírito maligno que atormentava o rei Saul.
- Davi tinha recebido o Espírito Santo e, aliado à técnica que já possuía, passou a adorar a Deus com um verdadeiro louvor. É desta época já que vemos nascer aquele que haveria de ser “o suave em salmos de Israel” (II Sm.23:1 “in fine”, isto é, a parte final do versículo). A presença do Espírito Santo na vida de alguém faz com que este alguém passe a ter uma vida de adoração, passe a servir ao Senhor, inclusive no que toca ao louvor, um louvor que faz afugentar o maligno, um louvor que é contrário a Satanás. Como, então, podemos admitir “louvores” na atualidade que têm suas raízes e sua razão de ser em cultos de adoração ao diabo, como o samba, filho dos terreiros de candomblé ou o “rock”, criado pelos satanistas?
- Apresentado a Samuel, Davi é ungido rei na casa de seu pai e, diz a Escritura, desde aquele instante, Davi passou a ser cheio do Espírito Santo (I Sm.16:13). O que faz, então, o pequeno Davi, depois de ter sido ungido rei pelo profeta Samuel, depois de sentir a presença do Espírito Santo sobre a sua vida? Participa do banquete que seu pai estava dando ao profeta e, no dia seguinte, volta a apascentar as ovelhas do seu pai!
- Davi era um homem segundo o coração de Deus, um homem agradável ao Senhor e, por isso, mesmo ungido e declarado rei, não alterou em coisa alguma o seu comportamento. Se havia promessa de Deus na sua vida, promessa esta confirmada pela mudança espiritual experimentada, isto se daria no tempo certo, no modo determinado pelo Senhor. Davi não mudou, em coisa alguma, a sua vida. Que exemplo a seguir! Quantos não são chamados para uma tarefa determinada pelo Senhor e se precipitam, tudo deixando, para “tomar posse da bênção”, pondo tudo a perder muitas vezes. Davi, como era um homem segundo o coração de Deus, sabia que a soberania pertence ao Senhor, que é Ele quem controla todas as coisas e, por isso, manteve a sua vida tanto quanto antes, aguardando a Divina Providência.
- Deus começa, então, a agir. O rei Saul passou a ser atormentado por um espírito maligno, pois o Espírito Santo o havia deixado, já que havia se apossado de Davi e vivíamos os tempos em que a ação do Espírito era sob medida. Rejeitado como rei por Deus, Saul perdeu a unção do Espírito, que passou a estar sobre Davi, aquele que havia sido escolhido pelo Senhor. É interessante observar que esta realidade espiritual passou completamente despercebida do povo e de todas as estruturas sociais. Ainda se passariam alguns anos, décadas mesmo, até que Davi se tornasse efetivamente rei de todo o Israel.
- Atormentado por um espírito maligno, o rei Saul é orientado a buscar um músico ungido, que tocasse bem harpa e afugentasse o espírito maligno. Alguém dá notícia da existência de Davi ao rei, que manda chamá-lo. É este o primeiro contacto de Davi com Saul. Mandado por seu pai, Davi toca harpa para o rei Saul e o espírito maligno era expulso sempre que havia o entoar da harpa. A dedicação de Davi bem como o seu porte diante do rei fez com que Saul o amasse muito (I Sm.16:21) e o fizesse seu pajem de armas, ou seja, seu escudeiro, aquele que carregava as armas.
- Davi inicia a sua vida junto ao trono como o carregador das armas de Saul. Que exemplo a ser seguido! Embora fosse já considerado um jovem valente (I Sm.16:18), com capacidade para ser um bom soldado (I Sm.16:18 NTLH), um homem de guerra (I Sm.16:18 ARA, ARC), um guerreiro (I Sm.16:18 TB, NVI), o jovem foi posto tão somente para carregar as armas. E qual foi a sua reação? Obedeceu, passou a servir ao rei com a mesma dedicação que havia servido ao seu pai no pastoreio das ovelhas. Quantos que, chamados por Deus para ser generais, não aceitam começar como carregadores de armas e, por causa disto, jamais chegam a comandar exércitos na luta espiritual contra o mal. Aprendamos a lição da humildade de espírito com Davi!
II – A BIOGRAFIA DE DAVI (II) – DAVI, O GENRO PERSEGUIDO DO REI SAUL
- Davi era apenas o pajem de armas de Saul e aquele que tocava a harpa para afugentar o espírito maligno do rei. Mas, então, vem a guerra com os filisteus e Davi é encontrado, novamente, cuidando das ovelhas de seu pai. Com efeito, Davi não servia ao rei ininterruptamente, mas ia e voltava da casa de seu pai (I Sm.17:15). Apesar de ser pajem de armas do rei Saul, não tinha deixado de ser pastor de ovelhas, desdobrando-se para servir a seus dois senhores, o seu pai e o rei de seu país. Que exemplo de dedicação. Quantos, na atualidade, não conseguem fazer isto? Quantos jovens que se desculpam na igreja por causa da escola e, na escola, por causa da igreja? E que dizer daqueles que, por trabalharem e estudarem, descuidam-se de suas tarefas na casa do Senhor? Davi, porém, era jovem responsável, que tanto servia o rei quanto servia o seu pai e o Senhor lhe abençoava em todo este serviço.
- Jessé, entretanto, mandou que Davi fosse visitar os seus irmãos e verificar como estavam. Ao ali chegar, Davi ficou indignado com os insultos do campeão dos filisteus, o gigante Golias, que punha todo o exército de Israel a tremer de medo. Davi indignou-se com a covardia e a falta de fé dos soldados israelitas e encontrou oposição imediata da parte de seu irmão primogênito, Eliabe, que o chamou de presunçoso e maldoso de coração, além de ter menosprezado o valor do jovem Davi, ao dizer que era pastor de “poucas ovelhas” (I Sm.17:28).
- Davi justificou-se diante do irmão e tomou uma sábia decisão, que foi a de “desviar-se dele”. Dirigido pelo Espírito Santo, Davi não se deixou embaraçar pela oposição de Eliabe, motivada pela inveja e pelo despeito. Muitos têm se embaraçado com este tipo de gente, que nada tem a oferecer, que nada tem de bom para aqueles que são escolhidos por Deus para realizar a Sua obra. Eliabe revelou aqui porque fora rejeitado por Deus: era invejoso e os invejosos são do maligno, a começar do primeiro, a saber, Caim (I Jo.3:12). Tenhamos discernimento espiritual para nos afastarmos de todos quantos não têm qualquer compromisso com Deus. Sigamos o conselho do apóstolo Paulo a Timóteo: “Destes afasta-te” (II Tm.3:5 “in fine”).
- Davi, movido pelo Espírito Santo, quis saber a respeito dos prêmios oferecidos pelo rei para quem aceitasse o desafio de Golias e se apresentou diante do rei Saul. Este quis que Davi usasse a sua armadura, mas o jovem Davi não confiava nas armas do rei, armas que tão bem conhecia, pois fora escudeiro de Saul, mas, sim, disse que ira enfrentar o gigante “…em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel” (I Sm.17:45). Uma vez mais, vemos que Davi não se vangloriava, mas se mantinha na inteira dispensação do Senhor. Era humilde de espírito, tinha consciência da sua fraqueza, da sua insignificância, mas sabia que maior era o Deus que estava com ele do que o gigante.
- A vitória sobre Golias foi um divisor de águas na vida de Davi. Embora o rei Saul não tivesse cumprido a promessa de lhe dar a sua filha em casamento(I Sm.17:25; 18:19), fez de Davi um dos comandantes do exército de Israel (I Sm.18:5) e nasce, então, o guerreiro, o maior de todos os conquistadores da história de Israel. A vinculação de Davi com a guerra foi tanta que o próprio Deus não permitiu que Davi construísse o templo, precisamente para que a idéia do sangue e da guerra fossem associadas ao nome do Senhor, que é o Deus da paz (I Cr.22:8).
- Davi chefiava um grupo de assalto, ou seja, uma tropa que efetuava ataques repentinos aos inimigos e que trouxe a Davi uma grande popularidade entre o povo, a ponto de isto ter despertado a inveja do rei Saul, que se desgostou ao ouvir as mulheres dizerem que Saul matava milhares, mas Davi, dezenas de milhares (I Sm.18:7,8). Tendo enfrentado, de início, a inveja de seu irmão primogênito, do qual facilmente pôde se desviar, Davi, agora, passava a enfrentar a inveja daquele a quem servindo estava, o próprio rei Saul.
- Davi passou, então, a ser duramente perseguido pelo rei Saul, que buscou, mais de uma vez, tirar-lhe a vida. A perseguição implacável fez com que Davi tivesse de fugir e, assim, perder a sua função no reino, num instante em que, inclusive, já era genro do rei Saul, pois havia sido casado com Mical (I Sm.l8:27). Saul passou a temer a Davi e a perceber que a unção de Deus estava sobre ele, constituindo-se, portanto, em nítida ameaça a seu reinado.
- Tem início, então, uma nova fase na vida de Davi. Tirado do curral das ovelhas de seu pai e levado para o palácio, Davi poderia ter entendido que o cumprimento da promessa de Deus para sua vida era apenas questão de tempo. Sendo genro do rei, tendo grande amizade com Jônatas, o príncipe herdeiro, e sendo respeitado pelo exército, nada mais além do tempo era necessário para que Davi se tornasse rei sobre todo o Israel. Entretanto, os caminhos de Deus não são os nossos caminhos (Is.55:8). Davi já havia sido treinado como pastor, músico e guerreiro, mas deveria agora formar o seu próprio exército, ter os seus próprios valentes.
- Ameaçado de morte pelo rei, Davi, de uma hora para outra, foi obrigado a sair de sua casa apenas com a roupa do corpo, avisado que fora por sua mulher da traição que lhe armara, uma vez mais, o rei Saul (I Sm.19:12-18). Impiedosamente perseguido por Saul, Davi chega, inclusive, a fugir para Gate, terra de Golias, onde tem de se fazer de doido para não ser morto pelos inimigos. Foi, então, refugiar-se na caverna de Adulão (I Sm.22), onde passa a ter a companhia de endividados e pessoas de espírito desgostoso. Para um homem que perdera família, posição social, respeito, honra, uma companhia de pessoas ainda mais amarguradas e desprezadas. Que prova!
- Davi acostumara-se com a companhia de valentes e de guerreiros preparados, mas, na missão que Deus lhe estava a confiar, era necessário que ele mesmo fosse o líder, o formador de homens valentes e destemidos. Como tipo de Jesus, Davi deveria transformar aqueles endividados, que se achavam em aperto e os desgostosos em valentes, em homens valorosos. Jesus, também, chamou aqueles pescadores e disse que os tornaria em “pescadores de homens” (Mt.4:19; Mc.1:17). Um homem cheio do Espírito Santo tem de ter a capacidade de influenciar aqueles que o cercam. Deve ser sal da terra e luz do mundo. Temos modificado as vidas que estão ao nosso redor?
- Esta nova fase da vida de Davi é a que chamamos de “fase da caverna de Adulão”, o instante da cruel perseguição de Saul, do desassossego, das constantes mudanças, da saudade da família, do isolamento, da incompreensão, da desconfiança sempre presente. Davi fugia a cada momento, mas nesta situação tão difícil, acabou por montar um corpo de servidores fiéis e destemidos, que o seguiriam durante todo o seu reinado. Na perseguição, na luta, nasce o sentimento da amizade verdadeira, do companheirismo sincero e desinteressado. Como diria Salomão anos mais tarde: “Em todo o tempo ama o amigo; e na angústia nasce o irmão” (Pv.17:17).
- Também é desta difícil fase na vida de Davi, que Davi se casa com duas mulheres, os casamentos que lhe darão filhos: com Abigail, viúva de Nabal, que quase fora morto por Davi, diante da negativa deste de ajudar-lhe, retribuindo com ingratidão a ajuda que dera aos seus pastores (I Sm.25) e com Ainoã de Jizreel (I Sm.25:43), tudo isso diante do fato de que Saul havia dado Mical, a mulher de Davi, a Palti (I Sm.25:44). Estes dois casamentos de Davi mostram que esta fase da vida de Davi despertou-se a sensibilidade conjugal de Davi, cujo casamento com Mical havia sido motivado pelo interesse, não pelo amor.
- Nesta época, Davi teve duas oportunidades para matar a Saul (I Sm.24, 26), mas, em ambos os casos, Davi não o fez, mantendo sua fidelidade e lealdade àquele que o perseguia impiedosamente. Nos dois episódios, Davi revelou que respeitava o seu senhor terreno, como também o Senhor Deus, pois reconhecia que Saul havia sido ungido rei sobre todo o Israel da parte de Deus. Davi mostrava que, mesmo injustiçado, não deixava de ter como valor supremo de sua vida o agrado a Deus. Antes de seus próprios interesses, estava o objetivo e propósito de sempre agradar ao Senhor. Se Saul era ungido de Deus, somente Deus poderia dar-lhe fim. Jamais poderia um verdadeiro servo do Senhor voltar-se contra um ungido, ainda que rejeitado. Que importante lição tão desconsiderada em os nossos dias, em que se esquece que todo salvo tem a unção do Espírito Santo. Lembremo-nos das palavras do Senhor Jesus: “E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.”(Mt.25:40).
- A perseguição de Saul foi tanta que Davi acabou se refugiando junto ao rei de Gate, Áquis(I Sm.27:2-4), a quem passou a servir, liderando o grupo de seus homens em assaltos a outros povos (I Sm.27:8-12). Por causa deste serviço, o rei de Gate entregou a Davi a cidade de Ziclague (I Sm.27:6), que passou a pertencer a Davi e sua família desde então. Os filisteus entraram em guerra contra Israel e não foi permitido a Davi que guerreasse com os israelitas, temerosos os filisteus que ele pudesse traí-los. Nesta guerra, Saul morreu e, ante a situação, a tribo de Judá, que Davi havia agradado com presentes na época dos assaltos feitos para o rei Áquis, proclamou Davi como seu rei.
- Nestas guerras desta “fase da caverna”, e mesmo depois no seu reinado, vemos como Davi se conduzia sempre sob a direção do Espírito de Deus, residindo aí o segredo de suas vitórias. Apesar de sua experiência como guerreiro, Davi jamais fazia coisa alguma antes de consultar ao Senhor. Diversas vezes encontramos Davi consultando a Deus sobre como deveria se conduzir nas suas batalhas (I Sm.22:10; 23:2; 30:8; II Sm.5:19; I Cr.14:10). Na Versão Almeida Revista e Corrigida, encontramos oito vezes a palavra “consultou”, que é a palavra hebraica “sha’al” (???), cujo sentido é “perguntar”, “inquirir”, “pedir orientação”, sendo que, em seis vezes, quem praticou tal atitude foi Davi, que se torna, assim, a personagem exemplar em termos de ação sob orientação de Deus. Assim como guerreara contra Golias “em nome do Senhor dos Exércitos”, Davi nada fazia sem a direção, a orientação de Deus. Apesar de sua experiência, não confiava na habilidade do homem, mas punha a sua confiança em Deus. Por isso é dito que Davi era um homem que Deus escolher para executar a vontade divina (At.13:22 “in fine”). Temos agido assim?
OBS: Existem duas outras referências bíblicas na ARC que usa a palavra “consultou”, mas que não é tradução da palavra “sha’al”.
- Antes de Davi ter sido proclamado rei pela tribo de Judá, é importante também vermos que Davi matou aquele que lhe trouxe a notícia da morte de Saul e de seus filhos, entre os quais Jônatas. Davi foi sempre fiel e leal a Saul e isto bem demonstrou mesmo após a morte de Saul, apesar de toda a perseguição que sofreu (II Sm.1). Um homem segundo o coração de Deus é fiel, leal e não guarda rancor. Um homem segundo o coração de Deus sabe perdoar e ver nas pessoas aquilo que elas têm de bom, pois ninguém é tão mal que não tenha algo que possa ser aproveitável. Um homem segundo o coração de Deus tem este olhar benigno, pois o amor divino é benigno (I Co.13:4).
OBS: Certo irmão conta-nos uma elucidativa história de um cão que morreu e foi deixado morto na rua, exalando péssimo cheiro Todos os que ali passavam reclamavam do mau cheiro do cachorro morto, até que alguém, mais sábio, ao constatar o corpo morto mal-cheiroso, dele se aproximou e exclamou: que belos dentes tinha este cachorro! Será que, como servos de Deus, temos conseguido enxergar os belos dentes ou apenas nos indignamos com o mau cheiro do próximo?
III – A BIOGRAFIA DE DAVI (III) – DAVI, O REI DE ISRAEL
- Saul estava morto, mas Davi ainda não começou a reinar sobre todo o Israel. Davi reinava apenas sobre a tribo de Judá e as outras onze tribos, instadas por Abner, comandante do exército de Saul, proclamaram rei o único filho de Saul que restara vivo, Isbosete (II Sm.2:8-11). Houve, ainda, uma guerra de dois anos até que Davi se tornasse rei de todo o Israel (II Sm.2:10; 3:1).
- Assim que Davi se estabeleceu como rei sobre todo o Israel, tratou ele de unir o reino e, para tanto, era necessário derrotar os jebuseus, cujos domínios impediam a união entre o sul, ocupado pela tribo de Judá e de Simeão, e as tribos do Norte. Para tanto, guerreou contra Jebus e a conquistou, tornando-a em capital do seu reino, com o nome de Jerusalém, motivo por que é ela chamada até hoje de “a cidade de Davi”. Esta conquista e a aliança que lhe foi proposta pelo rei de Tiro, fez com que Davi entendesse que Deus confirmava o reino na sua mão por amor ao Seu povo (II Sm.5:12). Temos, assim, mais uma vez, a demonstração da preocupação de Davi de estar na direção de Deus e de apenas ser e agir de acordo com a vontade divina.
- Sempre sob a direção divina, Davi, após ter conquistado Jerusalém, lança uma ofensiva sobre os filisteus, derrotando-os totalmente. Com efeito, a partir desta vitória de Davi sobre os filisteus, não mais encontramos relatos de dominação dos filisteus sobre os israelitas, o que havia sido uma constante desde a conquista da Terra Prometida. Com Davi, portanto, completa-se a obra de livramento destes terríveis inimigos, que se iniciara com Sansão, mais de cem anos antes. O segredo da vitória de Davi está em II Sm.5:25a: “E fez Davi assim como o Senhor lhe tinha ordenado”.
- Vencidos os filisteus, Davi pretendeu trazer a arca do concerto, que se encontrava em Baalé de Judá (ou Quiriate-Jearim) desde os tempos em que os filisteus a haviam devolvido nos dias de Samuel, para Jerusalém. Este cuidado de Davi para com as coisas de Deus, representadas, ao seu tempo, pelos utensílios do tabernáculo, que praticamente faz se mudar para Jerusalém, mostra que um homem segundo o coração de Deus é alguém que dá prioridade às coisas de Deus, às “coisas que são de cima” (Cl.3:1,2). Este interesse primordial de Davi é que iria levá-lo à idéia de construir um templo ao Senhor, idéia que o Senhor aprova, mas que determina seja executada pelo seu sucessor, o que não impediu que Davi iniciasse a obtenção dos materiais para esta construção e deixasse plenamente organizado o serviço de louvor que funcionaria no templo (I Cr.22-29).
- Este seu intento de levar a arca para Jerusalém foi alcançado, mas não sem antes ter havido o triste episódio da morte de Uzá, uma grande lição que Deus deu a Davi e a todo o Israel sobre a importância de se observar à risca a lei do Senhor (II Sm.6; I Cr.13) (recomendamos leitura estudo de nossa autoria, “O culto pentecostal que não deu certo”, na seção Estudos Bíblicos, no Portal Escola Dominical, onde abordamos o episódio com maior profundidade).
- Davi, uma vez instalado no poder, também, revelou que era um homem leal, mantendo as suas alianças e promessas, mesmo passando a ser a maior autoridade de seu povo. Assim é que traz Mical de volta a seu convívio, conquanto a mesma com ele nunca vai mais se entender, acabando por se tornar estéril (II Sm.6:23), como também devolveu tudo quanto tinha sido de Saul e de sua família a Mefibosete, o filho aleijado de Jônatas, que passou a tratar como um verdadeiro príncipe, honrando, assim, a promessa que fizera a Jônatas nos dias de perseguição (II Sm.9).
-Davi empreendeu uma série de guerras e, pela vez primeira, Israel passou a ter as fronteiras que lhe haviam sido prometidas por Deus a Abraão, dominando desde a Síria, cuja fronteira era o rio Eufrates, até o Mar Mediterrâneo, onde habitavam os filisteus (Dt.11:24; II Sm.8; I Cr.18). Sendo um homem que sempre aguardou o momento de Deus para o cumprimento das promessas, foi o primeiro a ser usado por Deus para que se cumprisse a promessa de concessão da totalidade de Canaã para Israel. Como vale a pena esperar em Deus e crer nEle, submetendo-se à Sua vontade!
- Em reconhecimento à fidelidade e à sincera e genuína adoração do rei, o Senhor dá a Davi a promessa messiânica, ou seja, promete que não faltaria varão sobre o trono de Israel da casa de Davi, caso sua linhagem mantivesse a fidelidade apresentada pelo fundador da dinastia ((II Sm.7:16). Esta promessa foi além mesmo da história política de Israel, sendo prometido que o Salvador da humanidade viria da linhagem de Davi. O Messias, desde então, passou a ser reconhecido como sendo o Filho de Davi e, efetivamente, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo seria descendente deste rei. A humildade de espírito fez o Senhor exaltar a Davi, tornando-o o ascendente do próprio Messias.
- Mas é no poder que teremos a última fase da vida de Davi, caracterizada pela mácula de seu adultério e do homicídio dele decorrente, algo que ficaria para sempre agregado à figura de Davi (I Rs.15:5). No tempo em que os reis deveriam ir à guerra (II Sm.11:1), Davi deixou de consultar o Senhor e resolveu nada fazer. Eis os males do ócio, da inatividade. Era tempo de os reis saírem, mas Davi resolveu ficar em seu palácio. O resultado disto foi o de passar a cobiçar Bate-Seba, a mulher de seu leal soldado, Urias, cobiça que o levou ao adultério.
- Como se não bastasse o adultério, ao saber que Bate-Seba estava grávida, o rei, então, arquitetou um plano para imputar a concepção ao marido de Bate-Seba, chamando-o da batalha. Urias, entretanto, não foi para sua casa e Davi acabou determinando a Joabe, o comandante de seu exército, que o matasse, deixando-o numa posição indefensável em meio a batalha. Morto Urias, Davi tomou Bate-Seba como sua mulher, mas, embora ninguém disto soubesse, Deus o soube e, conforme diz a Bíblia, “…esta coisa que Davi fez pareceu mal aos olhos do Senhor” (II Sm.11:27).
- Davi foi, então, desmascarado, em público, pelo profeta Nata. Mas, mesmo no seu pecado, vemos como Davi era um homem segundo o coração de Deus. Assim que revelada a sua falta pelo profeta, em público, o rei não mandou prender o profeta, como seria esperado e como fizeram outros reis, como Asa (II Cr.16:10) ou Zedequias (II Cr.37:21), mas, de imediato, se arrependeu de seus pecados, humilhando-se diante do Senhor. Confessou publicamente o seu pecado, confissão que até hoje pode ser observada pela humanidade, eis que se encontra no salmo 51. Por causa de seu arrependimento, Deus manteve-lhe a vida, ainda que os pecados cometidos tenham trazido sérias conseqüências para a vida de Davi.
- A partir destes pecados, que mancharam a reputação de Davi, vemos uma seqüência de problemas a atormentar o rei. A espada não se apartou da sua família (II Sm.12:10), tanto que seu filho Amnom, o primogênito, seria morto por seu meio-irmão Absalão(II Sm.13:23-39), já que violentara Tamar(II Sm.13:1-22), irmã germana (mesmos pai e mãe) de Absalão, episódio que seria o motivo da dissensão e da mágoa de Absalão em relação a Davi e que resultou na rebelião de Absalão, que chegou a tomar o poder e a destronar Davi(II Sm.15), que, com muito custo, conquistou retomar o trono. No final da vida, ainda, Davi teve de presenciar a rebelião de Adonias, que também tentou destroná-lo e o obrigou a coroar Salomão antes mesmo de sua morte (I Rs.1).
- Outro pecado de Davi deveu-se a um “ataque de soberba” do rei que, vaidosamente, determinou a contagem dos filhos de Israel, o que contrariava a lei de Moisés que somente permitia o recenseamento com o objetivo de expiar o povo de Israel e, assim, obter recursos para a tenda da congregação (Ex.30:11-16). Davi, porém, grande em poder, quis saber quantos havia sob o seu domínio, arrogando para si uma glória que somente caberia ao Senhor. Mas aqui se vê, mais uma vez, a humildade de espírito de Davi que se arrependeu de ter determinado a contagem, arrependimento genuíno, vindo do interior do rei (II Sm.24:10) e que se traduziu num gesto público de humilhação, com a compra da eira de Orna, o jebuseu e a oferta de sacrifício ao Senhor para aplacar a Sua ira, no local onde, aliás, seria localizado o templo (I Cr.21).
- Com setenta anos de idade, já envelhecido, Davi, como já dissemos, ainda teve de enfrentar a rebelião de Adonias e foi, então, obrigado a colocar seu filho Salomão no trono antes mesmo de sua morte. Pouco depois, deu conselhos profícuos a Salomão, fez seu último cântico e, então, morreu, passando à história como o mais valente e espiritual rei de Israel, Israel que tem como símbolo nacional, até os dias de hoje, a “estrela de Davi”.
IV – O QUE DEVEMOS APRENDER A FAZER COM DAVI
- Um exemplo cabal desta humildade de espírito em Davi encontramos no instante em que está a fugir de seu filho Absalão. Ao verificar que Zadoque e Abiatar, os sacerdotes de seu tempo, estavam com a arca do concerto prontos a acompanhá-lo em sua fuga, Davi determina que eles voltem para Jerusalém com a arca, pois ali era o seu lugar. Davi, então, afirma que está na total dependência do Senhor, cabendo a Ele decidir se o rei merecia, ou não, retornar ao trono (II Sm.15:25,26). Que prova de submissão à vontade divina! E, como se não bastasse isso, mesmo destronado, fugitivo e desmoralizado, Davi sobe ao monte das Oliveiras com um único objetivo: adorar ao Senhor (II Sm.15:32). Temos este grau de humildade de espírito?
- Um dos grandes males dos nossos dias tem sido a auto-suficiência, a arrogância, o orgulho dos homens, que a Bíblia diz serem “amantes de si mesmos” (II Tm.3:2). Os homens têm endurecido a sua cerviz, o seu coração para o Senhor, não se submetem a Ele e o resultado disto é que se perdem eternamente. Com Davi, aprendemos que devemos ser humildes de coração para encontrar descanso para as nossas almas (Mt.11:29). Seja como o pastor que se encontrava no curral das ovelhas, seja como o rei que havia conquistado toda a Terra Prometida, Davi sempre se mostrou humilde de espírito e, nas vezes em que esta humildade, por falta de vigilância, faltou, retornou imediatamente após.
- Mas, além da humildade de espírito, aprendemos também com Davi a confiar plenamente no Senhor e saber que somos tão somente Seus instrumentos. Davi, desde o instante em que foi enfrentar Golias, ainda jovem e inexperiente, sempre procurou fazer todas as coisas em nome do Senhor, ou seja, de acordo com a vontade do Senhor, para glorificação do nome do Senhor. Davi sempre evitou agiu por conta própria e, quando o fez, procedeu mal. Apesar de sua experiência como guerreiro e de sua popularidade e respeito, jamais deixou de consultar o Senhor quanto as estratégias que deveriam ser feitas, demonstrando, assim, que tinha plena consciência de que “o cavalo prepara-se para o dia da batalha, mas do Senhor vem a vitória” (Pv.21:31).
- Nos dias em que vivemos, cada vez maior é o número das pessoas que, em vez de crer em Deus e exercitar a sua fé, crêem em si mesmos, na sua experiência e habilidade, deixando Jesus do lado de fora de suas vidas. Como temos visto, a começar da casa de Deus, fórmulas e estratégias de sucesso, de êxito e de progresso, todas elas baseadas na auto-confiança, na auto-ajuda, mas sem qualquer fundamento na fé em Cristo Jesus. Muitos têm trocado a fé em Cristo por uma “determinação”, que nada mais é que um novo nome para a auto-confiança, para a arrogância e petulância humanas. Aprendamos com Davi a depender única e exclusivamente do Senhor, a fazer a Sua vontade. Afinal de contas, ao nos ensinar a orar, Jesus disse que deveríamos pedir assim: “Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu”.
- Davi também nos ensina a lição da consciência da presença do Espírito Santo em nossas vidas. As Escrituras dizem que o Espírito se apoderou de Davi assim que ele foi ungido pelo profeta Samuel (I Sm.16:13). No salmo 51, vemos que Davi percebeu que, por causa do pecado, o Espírito dele havia se afastado e clamou para que não fosse Ele retirado de sua vida (Sl.51:11). Estar na presença de Deus e ter o Espírito Santo era o que Davi mais desejava na vida. Esta prioridade espiritual é uma grande lição que Davi nos deixa para seguirmos. Com efeito, quando perdeu o trono, Davi não se importou nem se desesperou (II Sm.15:25,26), pois seu coração não estava preso ao poder e às riquezas, mas, sim, nas coisas que são de cima. Tanto assim é que, em plena fuga da presença de Absalão, encontramos Davi adorando a Deus (II Sm.15:32).
- Muitos, em nossos dias, já perderam a presença de Deus e não se dão conta disto. Somente o verificarão no dia do juízo, quando o Senhor lhes falará que nunca os conheceu, apesar de, em nome dEle, terem feito sinais e prodígios (Mt.7:21-23). Muitos já se acostumaram a pecar tanto que estão com suas consciências cauterizadas (I Tm.4:2), insensíveis à voz do Espírito de Deus. Pensam ter o Espírito Santo, mas, assim como Sansão, estão totalmente enganados (Jz.16:20). Devemos seguir a recomendação do apóstolo Paulo e não permitir que sejamos os responsáveis pelo entristecimento do Espírito Santo (Ef.4:30), mas, se o fizermos, ajamos como Davi e, prontamente, ao notarmos o afastamento do Espírito, clamemos pelo Seu retorno, imploremos ao Senhor, arrependidos, pela Sua misericórdia, para que não venhamos a nos perder. Tenhamos a sensibilidade espiritual que tinha Davi!
- A sensibilidade espiritual de Davi também nos traz lições a respeito do verdadeiro louvor a Deus. A Bíblia diz que Davi era o “suave em salmos de Israel” (II Sm.23:1 ARC, TB), o “amado cantor” (variante da NVI), o “mavioso salmista” (ARA), o “excelente cantor” (APF). Davi era “suave”, ou seja, “agradável”, “belo”, “musicalmente suave”, “apreciável” enquanto músico, pois é este o sentido da palavra hebraica “na’iym” ????)), que, na Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento) é a palavra “eupretés” (????????), cujo significado é “belo”, “de formosa aparência”.
- Pelo que verificamos, portanto, com Davi aprendemos que um louvor somente será “belo”, “agradável” se for “suave”, ou seja, se tiver uma aparência boa, ou seja, em termos de música, se fizer bens aos ouvidos, se não prejudicar a audição, mas, principal e fundamentalmente, se for “apreciável” por Deus. Deus Se agradava de Davi porque ele era um homem segundo o Seu coração, e, por ter um coração agradável a Deus, aquilo que compunha, aquilo que executava era prazeroso a Deus. Com Davi, aprendemos que o verdadeiro louvor não é aquele que advém da técnica, mas, sim, o que provém de um coração contrito, de uma alma submissa à vontade do Senhor. Davi tinha o Espírito Santo e, por isso, era “suave em salmos de Israel”. Não é possível um louvor verdadeiro e genuíno que não tenha como fonte o próprio Espírito de Deus. É por isso, aliás, que o apóstolo Paulo nos ensina que “…o louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Rm.2:29). Disto testifica o próprio Davi, quando afirma que, em todas as suas composições, o Espírito do Senhor por ele falou e a Sua Palavra esteve em sua boca (II Sm.23:2).
- Muitos, na atualidade, não são “suaves em salmos de Israel”. Muito pelo contrário, têm trazido para dentro dos cultos e para os conjuntos musicais da igreja um “fogo estranho’ (Lv.10:1), algo que não foi ordenado por Deus. Tais “louvores” são apenas retrato da dureza de seus corações diante de Deus, são resultado da sua vida de pecar, da sua insensibilidade espiritual e, por isso, muitas vezes são barulhos que somente causam males de saúde aos ouvidos daqueles que, inocentemente, se encontram à mercê de suas batidas e ruídos. Como se não bastasse esta “dureza”, trata-se, também, de melodias e letras que não provêm de Deus, que nada têm que ver com as Escrituras Sagradas nem com o Espírito Santo, mas que são fruto de carnalidade, quando não de doutrinas de demônios. Vigiemos e não permitamos que este “fogo estranho” venha a fulminar aqueles que, inadvertidamente, queiram apresentá-lo ao Senhor (Nm.3:4).
- Davi também é um exemplo a ser seguido no que toca à prontidão para o arrependimento. Nas vezes em que Davi pecou (pois não há homem que não peque – cf. I Rs.8:46; II Cr.6:36), vemo-lo, uma vez conscientizado do seu pecado pelo Senhor, pronto a se arrepender e a confessar o pecado. Assim ocorreu seja no episódio da revelação de seu adultério e homicídio por intermédio de Nata, seja no episódio do recenseamento do povo. Davi não resistiu ao chamado divino para o arrependimento, humilhando-se e confessando publicamente a sua falta. Além do mais, vemos que, após o arrependimento, Davi não mais voltou a praticar aqueles atos demonstrando ter, realmente, mudado de mentalidade, modificado a sua conduta, prontamente fazendo aquilo que o Senhor Jesus diria à mulher adúltera: “vá e não peques mais” (Jo.8:11) .
- Não podemos resistir ao Espírito Santo se quisermos ter vitória espiritual sobre o mal. Não devemos cobrir os nossos pecados, mas devemos nos arrepender e confessá-los, mudando a nossa atitude desde então. Jesus nos mostrou que o caminho da salvação passa necessariamente pelo arrependimento e que, sem arrependimento, não adianta querermos crer no Evangelho (Mc.1:15). Davi é o exemplo do homem pronto a atender ao convite do Senhor para o arrependimento. Que sigamos, pois, o exemplo de Davi, que experimentou aquilo que é recomendado pelo apóstolo João: “Se confessarmos os nossos pcados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça” (I Jo.1:9).
- Muitos, na atualidade, não querem mais confessar os seus pecados, sinal de que não estão arrependidos. Preferem escolher doutores conforme as suas próprias concupiscências (II Tm.4:3) a ouvir a voz do Espírito Santo. Preferem encobrir as suas faltas e fingir que tudo está bem, quando não está. Lembremo-nos do exemplo de Davi e com ele aprendamos que o arrependimento e a confissão nos trará a misericórdia divina, como ocorreu com Davi (II Sm.12:13; 24:10-13). “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia”(Pv.28:13).
- Por fim, cabe-nos mostrar como conduta de Davi a ser seguida a sua lealdade bem como a sua misericórdia. Davi é um exemplo de lealdade, sempre cumprindo os compromissos assumidos ao longo de sua vida, mesmo quando surgiram circunstâncias que justificariam, diante dos homens, uma mudança de atitude. Quem, em sã consciência, recriminaria Davi por não dar qualquer assistência a Mefibosete, depois de todo o mal que Saul lhe havia feito? No entanto, Davi havia feito um juramento para com Jônatas, juramento que ninguém havia presenciado, mas de que Deus era testemunha, o que era bastante para que tivesse de ser cumprido aos olhos de Davi. Davi vai em busca de Mefibosete, o herdeiro de Saul vivo, e, sem se importar se ele era coxo ou uma “ameaça política” ao seu reino, cumpre integralmente a palavra que jurara a Jônatas (II Sm.9).
- De igual modo, vemos como Davi tinha facilidade em perdoar os seus inimigos. Davi não era rancoroso e, por isso, pôde chorar copiosamente pela morte de seu filho Absalão, o mesmo que usurpara o seu trono, como também perdoou a Abner, comandante do exército de Saul, com ele firmando a paz (II Sm.3:7-21), apesar de ter sido ele peça importante na perseguição empreendida contra Davi por Saul e de ter posto a Isbosete como rei e iniciado guerra contra Davi. Davi, também, perdoou a Simei, que o havia amaldiçoado quando fugia da presença de Absalão (II Sm.19:18-23). Por ter sido sempre misericordioso, Davi alcançou misericórdia da parte do Senhor, devendo ser um exemplo a ser seguido, até porque assim espera o Senhor Jesus que sejam os Seus discípulos (Mt.5:7).
V – O QUE APRENDAMOS A NÃO FAZER COM DAVI
- Todos os homens são pecadores (Rm.3:23). Uma das maiores demonstrações de que a Bíblia é a Palavra de Deus está na sua imparcialidade, imparcialidade que está ausente de qualquer livro escrito pelos homens. Deus na faz acepção de pessoas (Dt.10:17; At.10:34), de modo que mesmo os grandes heróis da fé, e Davi é um deles (Hb.11:32), são apresentados como seres humanos e, portanto, como pessoas que, ao longo de suas vidas, pecaram e sofreram as conseqüências de seus erros diante de Deus.
- Davi não é exceção. Embora a Bíblia o apresente como o grande rei de Israel, o construtor do apogeu da história israelita, o grande guerreiro, o escolhido para fundar a dinastia de onde proviria o Messias, o mavioso salmista de Israel, não esconde as suas falhas, os seus vergonhosos erros. Além do compromisso com a verdade, até porque a Palavra de Deus é a verdade (Jo.17:17) e a revelação de um Deus que é a Verdade (Jr.10:10), a narrativa das falhas e erros dos grandes homens e mulheres de Deus são, também, uma lição para os salvos, contra-exemplos, ou seja, ao vermos os erros destas personagens, aprendemos como não devemos fazer, para que não se repitam as drásticas conseqüências constantes da narrativa bíblica. Eis o motivo por que, neste trimestre, sempre teremos uma seção a respeito do que não devemos fazer à luz das biografias estudadas.
- A primeira falha de Davi narrada nas Escrituras diz respeito ao seu comportamento familiar. Davi não é um exemplo para se seguir em termos familiares, tanto na forma como se casou como também na forma como criou os seus filhos. Não é de se surpreender, portanto, que, quando da sentença divina sobre Davi, tenha sido a sua família a principal vítima (II Sm.7:10-12).
- Desde o primeiro casamento de Davi, vemos que, com relação a este aspecto, Davi é um contra-exemplo. Ao chegar aonde estava o exército, Davi fica sabendo que o rei Saul havia prometido dar a mão de sua filha em casamento a quem enfrentasse Golias. Embora o móvel de sua ação contra o gigante tenha sido a indignação causada pelo Espírito de Deus quanto às afrontas de Golias a Deus, o fato é que o jovem Davi demonstrou grande interesse em se tornar genro do rei (I Sm.17:25-27). A filha em questão era Merabe (I Sm.18:19), que, porém, foi dada para casar com outrem, apesar de Davi ter vencido o gigante. Mas, como o objetivo de Davi era ser genro do rei e não o amor que devotasse à mulher, não se importou com tal fato, resolvendo casar-se com Mical, mesmo sem amá-la, embora por ela fosse amado (I Sm.18:20-29). Casamento por interesse não é um casamento que agrade a Deus e o resultado foi que esta união nunca foi salutar. Mical acabou sendo dada a Palti, quando da fuga de Davi e Davi, embora tenha tomado de volta Mical, quando se tornou rei, com ela nunca teve um bom relacionamento.
- Davi mostrou-se, também, ser impulsivo no aspecto conjugal. Afeiçoou-se a Abigail por causa da intervenção dela em favor de seu então marido Nabal, desposando-a logo após a sua viuvez(I Sm.26:39-42). Como se isto fosse pouco, também, não muito tempo depois de ter se casado com Abigail, casou-se com Ainoã (I Sm.26:43), tendo, uma vez estabelecido no reino, demonstrado toda esta inconstância ao tomar para si mais mulheres e concubinas (II Sm.5:13). Estas narrativas mostram-nos que, em termos sentimentais, Davi era impulsivo, guiava-se pela paixão, pelo desejo incontido em relação ao sexo oposto, circunstância que foi habilmente explorada pelo adversário para que o rei cometesse o adultério com Bate-Seba e, por causa dele, o homicídio de Urias, o heteu.
- Nossos relacionamentos sentimentais não podem ser guiados pela “paixão”, entendida esta como sendo “inclinação emocional violenta, capaz de dominar completamente a conduta humana e afastá-la da desejável capacidade de autonomia e escolha racional”. Na “paixão”, a pessoa perde o controle de seus sentimentos, é “passivo”, não domina, mas é dominado pelo seu “coração”, pela sua própria natureza. O verdadeiro cristão não pode ser movido por paixões, pois, como ensina o apóstolo Paulo, “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” (I Co.6:12). A paixão é passageira, superficial e não corresponde ao sentimento que se deve ter em um relacionamento que tem de ser duradouro e para toda a vida, como é o casamento.
- Agindo por paixão nos seus casamentos, Davi acabou por construir relacionamentos temporários e fugazes, sendo, até por causa disto, um contra-exemplo como pai de família. A Bíblia mostra-nos Davi como sendo um pai ausente durante toda a sua vida. Sua ausência e seu distanciamento para com os seus filhos foi a brecha para que houvesse tantas tragédias na família real. Amnom, o primogênito de Davi, era um jovem mimado, que se deixou levar pela paixão pela sua meia-irmã Tamar e o levou a cometer a loucura de violentá-la(II Sm.13:1-22). Davi nada fez para reprovar a conduta de seu primogênito e Absalão acabou por assassinar o próprio meio-irmão(II Sm.13:23-36).
- A distância com que Davi tratou o caso e como se comportou com relação a Absalão, mesmo depois de permitir a sua volta para Israel, foi a brecha utilizada para que Absalão costurasse a sua rebelião, tendo-o feito à porta do palácio do pai, a demonstrar quão distante era Davi de seus filhos(II Sm.15:1-6). Aliás, o fato de Absalão ter abusado publicamente das concubinas de seu pai, apesar de ser um conselho recebido para mostrar a sua ruptura com o seu pai, é um exemplo de quanto era abominado pelos filhos de Davi a sua conduta “apaixonada” em relação às mulheres.
- Esta mesma distância é demonstrada no que toca a Adonias, um filho a quem jamais Davi disse não, ou seja, um filho criado sem qualquer disciplina (I Rs.1:6). O próprio Salomão somente desfrutou de uma intimidade maior com seu pai nos instantes finais de vida de Davi, pois até sua entronização necessitou de uma intervenção de Bate-Seba, que, pelo que se verifica do texto sagrado, também já vivia num certo distanciamento do rei (I Rs.1).
- Nos pecados mais lembrados de Davi, quais sejam, o do seu adultério com Bate-Seba e o conseqüente homicídio de Urias, temos de aprender, em primeiro lugar, que o servo de Deus nunca pode ficar ocioso na missão que lhe foi confiada pelo Senhor. Era tempo de os reis saírem à guerra, mas Davi preferiu ficar em seu palácio, mandando que Joabe fizesse aquilo que o rei deveria fazer (I Sm.11:1). Quando deixamos de fazer aquilo que nos é necessário fazer, notadamente quando servimos a Deus, armamos uma arapuca para nós mesmos. Ao ficar no palácio em vez de sair à guerra, Davi ficou à mercê do adversário de nossas almas que, sabedor da fraqueza de Davi para com as mulheres, armou-lhe uma astuta cilada. Não podemos ignorar os ardis do inimigo (II Co.2:11).
- Ainda com relação a estes pecados, percebemos, também, que a tentativa de cobertura de um pecado leva a outros. Um abismo chama outro abismo (Sl.42:7) e o resultado desta batalha para esconder o adultério foi o homicídio de Urias, um leal soldado, um de seus valentes (II Sm.23:39). Não devemos esconder as nossas faltas, mas confessá-las e deixar de pecar se quisermos ter vitória, pois, ao cobrirmos um pecado, tão somente estaremos iniciando um monturo de faltas que, a seu tempo, serão reveladas para vergonha nossa e escândalo que pode abalar a fé de outros, sobre os quais seremos responsabilizados (Mt.10:26; 18:16; Mc.4:22).
- Na tentativa de cobertura do pecado de adultério, aliás, vemos um outro defeito de Davi, que era o de subestimar o próximo, considerando-o incapaz de ter as mesmas virtudes que ele próprio. A Bíblia ensina-nos que devemos considerar os outros superiores a nós mesmos (Fp.2:3), não devendo ser presunçosos, característica dos homens dos tempos trabalhosos (II Tm.3:2). Davi, vez por outra, achou que o outro não tinha as mesmas qualidades morais que ele próprio. Assim, entendeu que Urias não tivesse a mesma lealdade que Davi devotara, anteriormente, a seu pai e a Saul, achando que, mesmo tendo se negado a ir até a sua casa, em plena época de campanha, fá-lo-ia se estivesse embriagado. Da mesma forma, creu na mentira de Ziba, quando este lhe disse que Mefibosete lhe teria traído, como que não acreditando que a mesma lealdade que Davi sempre teve com Saul não seria seguida por Mefibosete em relação ao próprio Davi (II Sm.16:1-4).
- Por fim, com relação ao pecado de Davi em contar o povo, vemos como é perigoso nos deixar levar pela vaidade, pelo orgulho. Devemos estar sempre vigilantes para que não entendamos que a posição de destaque que nos for concedida por Deus seja fruto de nossa capacidade. A Bíblia afirma que Davi se deixou levar pelo inimigo (I Sm.21:1) e quis saber sobre quantos israelitas estava a governar, sem que, para tanto, fizesse qualquer expiação a Deus, mediante a oferta à tenda da congregação, como mandava a lei. A arrogância, a vaidade são fatais para o servo de Deus. Se é verdade que o inimigo procura derrubar aqueles que Deus exalta, não é menos verdadeiro que também busca exaltar o homem acima da posição que Deus lhe confiou, pois, em assim fazendo, a queda é inevitável. Que sigamos sempre a Palavra de Deus para que não venhamos a ser surpreendidos pela astúcia do diabo.
Colaboração para o Portal EscolaDominical: Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco.