
Entendendo a igreja: O significado
Leitura:Mt 16.18: Pois também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja...
Segundo estudiosos da Bíblia, quando uma palavra ocorre pela primeira vez nas Escrituras Sagradas ela estabelece um princípio ou princípios, sem o qual ou sem os quais, não teremos uma clara compreensão sobre a mesma. Partindo deste entendimento, iremos, pela graça do Senhor, compreender de forma bíblica e clara o real significado da igreja. Este será o nosso objetivo.
Se pesquisarmos, veremos que em toda a Bíblia a palavra igreja ocorre pela primeira vez no versículo 18 do capítulo 16 do Evangelho de Mateus. Embora a igreja seja apresentada desde o início da criação, através de símbolos, figuras e alegorias, a palavra “igreja”, de forma explícita, não ocorre em nenhum versículo de Gênesis 1.1 a Mateus 16.17.
E o mais impressionante é que foi o próprio Senhor Jesus que a citou pela primeira vez. Ninguém, absolutamente ninguém, antes disso foi autorizado por Deus a pronunciar a palavra igreja. É certo que o Senhor já sabia da confusão que seria feita em torno desta palavra, por isso Ele mesmo fez a sua primeira citação.
Sendo assim, não podemos dar um passo se quer sem antes compreendermos o genuíno significado desta palavra usada por Jesus. Só há três citações desta palavra nos Evangelhos e todas as três foram feitas pelo Senhor. Além de Mateus 16.18, Ele também a usou em Mateus 18.17. Isto é maravilhoso, porque em cada um desses capítulos o Senhor trata de dois aspectos diferentes da igreja. No capítulo 16 nos é apresentado o aspecto doutrinário da igreja e no capítulo 18, o aspecto prático. Mas este é um assunto para ser tratado mais adiante. Este versículo 18 de Mateus 16 é riquíssimo. Há inúmeros princípios expostos neste verso. Iremos paulatinamente observando-os, se assim o Senhor permitir. Mas agora iremos focar no significado da igreja bíblica.
A palavra igreja é a tradução da palavra grega ekklesia que significa assembléia. Assembléia daqueles que foram chamados para fora de seus lares. Assembléia de cristãos reunidos para adorar, com a viva esperança da salvação eterna em Cristo Jesus. Assembléia daqueles que em qualquer lugar, numa cidade, vila, etc, constituem um grupo de pessoas unidas em um só corpo. Também significa a totalidade dos cristãos dispersos por todo o mundo e dos cristãos fieis já falecidos e recebidos no céu. Esta palavra ekklesia é derivada de duas palavras: “ek e kaleo”. Segundo Strong, James: Léxico Hebraico, Aramaico E Grego De Strong, ek “é uma preposição primária que denota origem; o ponto de onde uma ação ou movimento procede. Significa dentro de, de, por, e fora de”. E kaleo significa “chamar, chamar em alta voz, proferir em alta voz, convidar, chamar pelo nome, dar nome, receber nome, dar um nome a alguém, chamar seu nome, ser chamado”.
Então nós podemos dizer que a igreja é a união em um só corpo daqueles que foram chamados pelo Espírito Santo para fora do mundo, daqueles que foram convidados a viver uma nova realidade, daqueles que receberam um novo nome, o nome de Jesus, e foram feitos cristãos para a honra e glória do Senhor. É isto que esta palavra quer dizer. É isto que significa esta igreja que o Senhor Jesus trata em Mateus 16.18.
O formato de uma instituição humana denominacional é uma criação do próprio homem, é uma herança do catolicismo romano; não é bíblico. A igreja sobre a qual o Senhor Jesus trata aqui em Mateus, é um organismo vivo, formado por pessoas, por todos aqueles que foram chamados por Deus para fazerem parte de Sua eterna família. A verdadeira igreja não é uma instituição humana. A verdadeira igreja é uma instituição divina. Esta é uma verdade tão simples, como é o verdadeiro Evangelho do Senhor Jesus. Nós é que tendemos a complicar tudo. Temos feito tanta confusão com relação a este assunto!
Este conceito bíblico da igreja revelado por nosso Senhor Jesus precisa ser levado a sério por nós que somos seus discípulos. Se este conceito não ficar claro para nós não poderemos prosseguir com este estudo. Não iremos também conseguir prosseguir em nosso caminhar cristão. Este não é um conceito meu; não é um entendimento de minha limitada mente. Este é um conceito da Bíblia Sagrada; é um entendimento do Senhor Jesus. Não temos o direito de contestar esta verdade. Se fizermos isto, seremos loucos e certamente colheremos as consequências.
Agora pergunto: Podemos chamar qualquer estrutura física construída pelo homem de igreja? Podemos? É claro que não! Por que não? A resposta é clara e lógica: Não há fundamentos bíblicos para isto. Simplesmente isto. Não há em nenhum livro, carta, capítulo ou versículo da Bíblia um fundamento se quer que sustente esta idéia. Pelo contrário, há inúmeros fundamentos na Palavra do Senhor que derrubam esta idéia. Se compreendermos claramente que nós somos a igreja, também iremos compreender que somos membros do corpo de Cristo, a casa de Deus. Certamente esta casa precisa ser organizada, precisa de ordem, de irmãos levantados pelo próprio Senhor para isto, para servirem à igreja através dos ministérios instituídos pelo próprio Senhor. E os membros desta santa casa precisam congregar frequentemente. Aqui necessito fazer uma pequena observação para não ser mal interpretado: Após sermos confrontados com esta verdade pode haver uma tendência a nos isolar. Todavia, o isolamento é contrário à Palavra do Senhor. Hebreus 10.25 diz: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima”. Fomos salvos para vivermos em comunhão com o Pai e uns com os outros. O Senhor nos escolheu para sermos o Seu tabernáculo, a Sua casa, a Sua morada, o lugar de habitação do Seu Espírito, do Espírito Santo. É isto que a Bíblia diz. Veja os textos a seguir:
Atos 17.24 - “O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens.”. 1Coríntios 3.16 - “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” 1Timóteo 3.15 - “ mas, se tardar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade.” Hebreus 3.6 - “mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós...”. Hebreus 8.2 - “ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem”.
O que falar diante destes textos? Podemos confrontar estas verdades? Temos algum argumento que conteste estes versículos? É lógico que não! Não há argumentos que coloquem em dúvida verdades tão explícitas. Esta é simplesmente a Palavra de Deus; pura e imutável.
Portanto, a igreja é um organismo cheio de vida, a vida de Cristo. É justamente isto que o Senhor Jesus tem em mente quando cita pela primeira vez a palavra igreja. E é isto que temos que entender; é isto que temos que viver. Este deve ser o nosso entendimento, porque este é o entendimento do nosso Senhor. Precisamos crer que hoje temos a mente de Cristo. É esta mente que deve nos governar. O Espírito do Senhor Jesus em nosso espírito governando a nossa mente e fazendo com que pensemos como o Senhor pensa. Para que possamos obedecer a Deus e fazer a Sua vontade, é preciso nos submeter ao Seu senhorio em nossa vida. É isto e mais nada.
Então, diante de uma revelação tão maravilhosa, pergunto: E se já sabemos disso; e se dizemos que já compreendemos esta verdade, porque insistimos em continuar errando? Certamente satanás está por trás de todo esse embaraço. Ele sempre fez e sempre irá fazer de tudo para confundir o povo de Deus, para desencaminhar, para tirar de nós o verdadeiro foco, para cegar o nosso entendimento.
Tenho conversado com alguns irmãos e falado sobre este fundamento. Muitos me ignoram. Alguns até se dispõem a dar-me atenção, mas na verdade estão com os ouvidos fechados. Continuam dizendo que vão à igreja uma, duas, três ou até mais vezes durante a semana. Esta se tornou uma frase tão normal no meio do povo de Deus, mas segundo a Bíblia isto é simplesmente impossível. Dizer isso revela a nossa falta de compreensão sobre o assunto que estamos tratando. Prestem bem atenção! Só se vai para a igreja uma vez. Não há possibilidade de ir para a igreja mais de uma vez. Dizer isto é inconscientemente negar a Palavra do Senhor. A única vez em que nós, que hoje somos cristãos, fomos para a igreja, foi no dia em que confessamos o nome do Senhor Jesus como único Senhor e Salvador de nossa vida. Nesse bendito dia, o Espírito Santo nos convenceu de nossos pecados, nos conduziu ao verdadeiro arrependimento e nos introduziu no corpo de Cristo que é a igreja. Foi nesse dia que nós passamos a fazer e ser parte da igreja do Senhor Jesus. Nesse dia, o Senhor nos adotou e nos fez filhos. Podemos até optar por viver como pródigos, distantes da casa de Deus, mas nunca mais deixaremos de sermos filhos, porque segundo a Sua Palavra, nós jamais seremos lançados fora.
João 6.37 Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.
Portanto, os cristãos, que são pessoas nascidas em Cristo Jesus pelo poder do Espírito Santo, não vão para a igreja, mas se reúnem como igreja frequentemente. Nós juntos formamos a igreja e nos reunimos durante a semana para louvar, adorar e esperar o nosso Senhor Jesus. Nós fomos conduzidos pelo Pai até o Filho através do Espírito Santo para sempre, para toda a eternidade. Será que nós podemos compreender isto? A amplitude desta revelação? Esta verdade precisa nos tocar e transformar todo o nosso viver. A igreja do Senhor Jesus está carente destas verdades. Temos nos ocupado demasiadamente com nós mesmos e fechado os nossos olhos para o Senhor Jesus.
Não podemos continuar esse compartilhar sem que esta verdade fique completamente clara em nossa mente. Que possamos pedir a Deus que o Seu Espírito nos revele estas verdades para que não vivamos mais iludidos com falsos conceitos.
Que o Senhor Jesus através do Seu Santo Espírito nos conquiste completamente. Conquiste a nossa mente e a nossa vontade! Amém.
George S. M. Falcão
Doutrina da Salvação - Expiação
Leitura: Hb 9.11-28
Conceito: É a satisfação oferecida à justiça divina por meio da morte de Cristo pelos nossos pecados, em virtude do qual todos os que crêem em Cristo são pessoalmente reconciliados com Deus, livrados de toda a pena dos seus pecados e feitos merecedores da vida eterna. A expiação é a remoção da causa da inimizade do homem (Rm 5.10). Na expiação a fraqueza, a impiedade e o pecado (mencionados em Rm 5.6-8), fatores causadores da inimizade são removidos.
Portanto expiação é o cancelamento da fraqueza (Rm 5.6), da impiedade (Rm 5.6) e especialmente do pecado (Rm 5.8; 1 Jo 1.29; At 3.19). A causa da expiação:o amor (Jo 3.16; Rm 5.8) e a justiça de Deus (Rm 3.25,26). Por Seu amor Ele deseja salvar-nos, mas Sua justice exige o pagamento da pena pelo pecado. Uma vez que Deus decidiu salvar-nos, a expiação era necessária (Lc 24.25,26; Hb 2.17; 9.25,26). Assim, Ele mesmo pagou por nós, na pessoa de Cristo.
A expiação não era necessária para estimular o amor de Deus – o amor foi a origem da expiação, mas para satisfazer Sua justiça. A doutrina da expiação foi revelada no AT nos sacrifícios de animais, que apontavam para o sacrifício maior, do Cordeiro de Deus. Os profetas do AT também desenvolveram a idéia messiânica, revelando seus sofrimentos e morte sacrificiais. A Expiação foi definitiva: Jesus pagou de uma vez por todas o preço dos nossos pecados. Só Ele era capaz de receber toda a ira de Deus contra nós e sofrê-la até o fim (Is 53.11; Jo 19.30). Por isso, não nos resta nenhuma condenação (Rm 8.1).
Termos do NT que descrevem diferentes aspectos da expiação:
1. Sacrifício – merecíamos morrer como castigo pelo pecado, mas Cristo morreu como sacrifício por nós (Hb 9.26);
2. Propiciação – merecíamos receber a ira de Deus pelo pecado, mas Cristo morreu como propiciação pelos nossos pecados (1 Jo 2.2; 4.10; Rm 3.25). Propiciar significa aplacar a ira de uma pessoa ofendida. Na propiciação a ação se dirige para Deus, a pessoa ofendida. O propósito da propiciação é alterar a atitude de Deus, da ira para a boa vontade e favor. Na propiciação é a ira que é removida (Rm 5.9,10) e a amizade de Deus é restaurada. Não é o caso de Deus mudar, mas sim de que sua ira é desviada (Sl 78.38; 79.8). A expiação extingue o pecado (a inimizade contra Deus), a propiciação extingue a penalidade do pecado (a ira de Deus) que é desviado para a cruz de Cristo (Rm 3.25; Rm 1.18,24,26);
3. Reconciliação – estávamos separados de Deus pelos nossos pecados, mas Cristo nos reconciliou com o Pai (2 Co 5.18,19; Cl 1.21,22; Rm 5.10,11). É a operação graciosa de Deus pela qual Ele reconcilia os pecadores consigo mesmo, por meio da morte de Jesus Cristo, removendo a inimizade (2 Co 5.18-21; Cl 1.20-22);
4. Redenção – estávamos escravizados ao pecado e ao reino de Satanás, mas Cristo pagou o preço para nos resgatar da escravidão (Mc 10.45; Rm 3.24; 1 Co 6.20; Mt 20.28; 1 Tm 2.6). Este resgate não foi pago a Satanás, mas a Deus, cuja justiça exigia o pagamento.
Algumas Teorias da Expiação:
1. Teoria do resgate pago a Satanás – sustentada por Orígenes, teólogo de Alexandria: afirmava que Cristo pagou o resgate a Satanás, em cujo reino se encontravam todas as pessoas devido ao pecado. Não encontra confirmação direta nas Escrituras e tem poucos defensores na história da igreja, uma vez que era a justiça divina que exigia satisfação e Satanás não tem direito de exigir nada de Deus.
2. Teoria da influência moral – defendida por Abelardo, teólogo francês: sustenta que a morte de Cristo foi apenas um exemplo de como Deus ama o homem e não o pagamento de uma exigência. Esta demonstração de amor nos leva à gratidão e ao amor e, portanto, ao arrependimento e à fé. Esta teoria vai de encontro a muitas passagens que mostram Cristo morrendo pelos pecados.
3. Teoria da Satisfação – proposta por Anselmo: diz que o pecado ofende a honra de Deus, o que exige satisfação. Nós, porém, não poderíamos pagar uma dívida tão grande. Somente Deus poderia pagar este preço e como eram os homens os devedores, somente um Deus-homem poderia dar uma satisfação plena. Entretanto, esta teoria apresenta Deus como um senhor feudal que exige satisfação de seus vassalos, sem considerar o caráter amoroso de Deus e enfoca mais aspectos quantitativos – Cristo pagou a soma exata dos pecados – do que qualitativos, da dignidade do sofrimento de Cristo.
4. Teoria Governamental – proposta por Hugo Grotius, teólogo holandês: sustenta que Deus não tinha realmente que exigir pagamento pelo pecado, mas para mostrar que Ele é o Legislador do Universo e quando uma de Suas leis é quebrada uma pena terá que ser paga. Assim, Cristo não paga a pena por nossos pecados, mas apenas cumpre a lei divina. Contrariamente, a Bíblia fala da morte vicária de Cristo por nós. 5. Teoria da Substituição Penal – declara que Cristo suportou em nosso lugar a total penalidade que deveríamos pagar. Ele morreu não somente em nosso benefício, mas em nosso lugar. Cristo identifica-se com a raça humana, tornando-se igual a nós, mas sem pecado. Mostra um equilíbrio entre a ira e o amor de Deus, pois foi por amor que Ele mandou Cristo para pagar por nossa culpa.
A morte de Cristo foi substitutiva Ele não morreu por seus próprios pecados (Jo 8.46; 1 Pe 2.22; Hb 4.15). Ele morreu pelos pecados dos outros (Is 53.5,6; 2 Co 5.14,15,21; 1 P2 2.22-24).
O Alcance da Expiação A expiação é universal, mas não no sentido de que todos serão salvos, mas que a obra de Cristo provê salvação para todas as pessoas. A oferta sacrificial de Cristo tornou a salvação possível a todo aquele que crê (1 Tm 2.6). É universal no sentido de provisão, mas condicional na sua aplicação ao indivíduo (Jo 3.16,17; Rm 5.8,18; 2 Co 5.14,15;1 Tm 2.4; 4.10; Hb 2.9; 10.29; 2 Pe 2.1; 1 Jo 2.2; 4.14). Cristo morreu mesmo pelos que podem vir a perecer (Rm 14.15; 1 Co 8.11; Hb 10.28,29). A Bíblia mostra também textos que mostram que Cristo morreu pelas ovelhas (Jo 10.11,15) e pela igreja (Ef 5.25; At 20.28), o que é plenamente verdade, sem anular a idéia de que Ele morreu também por aqueles que não crêem.
Benefícios incondicionais da expiação:
1. A Existência contínua da raça – Se não fosse pela intervenção divina, a morte imediata dos primeiros pais seria inevitável e com ela terminaria a vida humana.
2. A Restauração de todos os homens à salvabilidade – a provisão proveu o dom gratuito da graça a todo o que crê.
3. A salvação das crianças – apesar de não haver declaração explícita nas Escrituras, não podemos chegar a outra conclusão à luz do amor e da graça divina.
Benefícios condicionais da expiação Alcançados somente pelos que aceitam a Jesus como seu Salvador:
a) A Justificação
b) A Regeneração
c) A Adoção
d) A Santificação.
Doutrina da Salvação - Justificação
Leitura: Rm 5.1-17
Definição da palavra- Justificação: É um ato judicial de Deus, no qual Ele declara, com base na justiça de Jesus Cristo, que todas as reivindicações da lei estão satisfeitas a favor do pecador (At 13.39; Rm 5.1,9; 8.30-33; 1 Co 6.11; Gl 2.16; Gl 3.11).
Na justificação estão incluídos o perdão, a adoção, a substituição vicária e a imputação. O uso na Bíblia do termo justificar indica uma declaração legal da parte de Deus, na qual Ele nos declara justos, nos justifica (Rm 3.20, 26, 28; 5.1; 8.30; 10.4, 10; Gl 3.24; Is 50.8). A idéia de que a justificação é uma declaração legal fica clara no contraste com a condenação (Rm 8.33,34). A justificação é um ato forense de imputação da justiça de Cristo ao crente e não uma infusão de santidade no indivíduo. Ou seja, não é o caso de tornar uma pessoa boa, mas declará-la justa. Justificação é um ato judicial de Deus que ocorre no tribunal divino e não na alma humana, como a regeneração.
Na regeneração, Deus age em nós; na justificação Ele age por nós. Se justificar fosse tornar bom, justo, não fazia sentido textos onde Deus condena quem justifica o culpado (Pv 17.15; Is 5.23). A justificação envolve dois aspectos: a) O perdão dos pecados – não temos mais que pagar pelos pecados cometidos. (Rm 8.1, 33, 34; 4.6-8; Jo 5.24; Lc 18.14). Entretanto, se Deus apenas nos perdoasse, ficaríamos em situação neutra diante dele. b) A imputação da justiça de Cristo – Deus considera a justiça de Cristo como sendo nossa (Rm 4.3; 5.17,19).
Na Bíblia, vemos três vezes a imputação de culpa ou justiça:
1. Quando Adão pecou, sua culpa foi imputada a nós;
2. Quando Cristo morreu, nossos pecados foram imputados a Ele;
3. Na justificação, a justiça de Cristo é imputada a nós. Não se trata de nossa justiça própria, a justiça de Jesus que gratuitamente é atribuída ao homem (Fp 3.9; 1 Co 1.30). A justificação é efetuada inteiramente pela graça de Deus e não pelos méritos humanos (Rm 3.20, 23, 24). Não é por causa de nossa bondade, mas unicamente pela bondade de Deus, revelada na obra de Cristo (Rm 5.17-19).
A base da justificação encontra-se na obra mediadora de Cristo, pois Ele satisfez a justiça divina por seu sacrifício propiciatório, como representante do homem. A justificação não ocorre por causa de nenhuma boa obra humana. Se nossa justiça provém da obediência à Lei, Cristo morreu em vão (Gl 2.21). Não é por muitos anos de serviço na igreja, mas tão somente pela graça divina em nosso favor (Gl 3.24).
Como alcançamos a justificação? Apropriamo-nos desta dádiva divina através da fé em Cristo (Gl 2.16; Rm 3.25, 26, 30; 5.1). A fé demonstra nossa dependência de Cristo no que tange à nossa salvação (Rm 4.16). No entanto, a fé não é o fundamento da justificação, mas apenas a mão estendida para aceitar o dom de Deus. A justificação envolve três partes, todas voluntárias: Jesus dispõe-se voluntariamente a morrer por nós e unir-se com o pecador; O pecador dispõe-se a aceitar esta salvação, unindo-se a Cristo; O Pai aceita isto de bom grado. Assim, tudo é completamente ético e legal.
Fé e obras A Epístola de Tiago diz que somos justificados por obras e não por fé somente (Tg 2.24). Porém, Tiago está usando a palavra justificado num sentido diferente de Paulo; não “declarar justo”, mas “provar ser justo” (Lc 16.15; 10.28,29; Mt 11.19; Lc 7.35; Rm 3.4). Tiago está argumentando contra aqueles que dizem ter fé, mas não apresentam mudança alguma em suas vidas (Tg 2.18). A Bíblia é clara em declarar que a justificação não é pelas obras (Ef 2.8-10), mas indica que o crente justificado deve praticar obras apropriadas à sua nova natureza (2 Co 13.5; Gl 5.19-24). A imputação da justiça vem sempre acompanhada da santificação interna (1 Co 6.11). Se a nossa culpa do pecado foi removida pela obra de Cristo e somos agora novas criaturas, devemos andar de forma diferente do tempo em que vivíamos na perdição, longe de Deus (1 Pe 4.2). Se os crentes vivem na mentira, na desobediência, na sensualidade igual aos incrédulos, que diferença haverá?
Conseqüências do Pecado É necessário fazer-se a distinção entre as conseqüências temporais e eternas do pecado. Quando alguém é justificado, as conseqüências eternas do pecado são canceladas, mas as conseqüências temporais não são necessariamente removidas. Davi, por exemplo, sofreu as conseqüências do seu pecado, mesmo tendo sido perdoado (2 Sm 12.13,14). O ladrão da cruz morreu agonizando ali, apesar de ter sido perdoado (Lc 23.43; Jo 19.31,32). O pecado é algo grave. Mesmo o perdão de Deus sendo ilimitado e acessível, o pecado trará conseqüências graves.
Importância desta doutrina 1. É a verdadeira esperança para pecadores que nunca poderiam justificar-se a si mesmos, mas que pela fé em Cristo serão justificados por Ele. 2. Dá-nos confiança de que Deus nunca nos fará pagar por pecados perdoados pelos méritos de Cristo. 3. Traz-nos paz com Deus (Rm 5.1) e preserva-nos da Sua ira (Rm 5.9). Temos a certeza da glorificação final (Rm 8.30) e a libertação presente da condenação (Rm 8.33,34), além da herança da vida eterna (Tt 3.7).
Obras consultadas: ERICKSON, Millard, T. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997. DUFFIELD, Guy P.; VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal. São Paulo: Quadrangular, 2000. GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999. HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 1996. SEVERA, Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemática. Curitiba: A. D. Santos, 1999. WILEY, H. Orton; CULBERTSON, Paul T. Introdução à Teologia Cristã. São Paulo: Casa Nazarena de Publicações, 1990.
Doutrina da Salvação - Eleição e Predestinação
Leitura: 1 Pe 1.1-21.
Eleição é “o ato soberano de Deus, pela graça, através do qual ele escolheu em Cristo Jesus, para salvação, todos aqueles que previu que o aceitariam” (Thiessen citado por DUFFIELD). Predestinação é um termo mais abrangente, que envolve a eleição (para os crentes) e a reprovação (para os incrédulos). A Palavra de Deus fala sobre a soberania de Deus na salvação do homem, mas a Bíblia também fala sobre a responsabilidade humana diante da oferta da salvação. É necessário manter-se o equilíbrio ao considerar-se este tema:
Toda iniciativa é de Deus. A salvação vem de Deus (Sl 3.8). Toda a iniciativa da salvação vem do Criador. Não foi o homem quem escolheu salvar-se, mas Deus quem quis oferecer ao homem a comunhão com Ele mesmo e a vida eterna, pois o homem estava morto espiritualmente e não podia dar vida a si mesmo (Ef 2.1-3,5,6). Cristo diz aos discípulos: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós” (Jo 15.16). O pecador sem a graça de Deus, não entende nem aceita as coisas de Deus (1 Co 2.14; 2 Co 4.4; Ef 4.18). A Bíblia afirma que todos pecaram (Rm 3.23) e que nossas justiças não têm valor redentivo diante de Deus (Is 64.6; Ef 2.8-10). A Bíblia afirma a eleição (1 Ts 1.4; Cl 3.12; Ef 1.4,5; 2 Ts 2.13). Vemos a eleição dos anjos (1 Tm 5.21), de Cristo (Mt 12.18; 1 Pe 2.4,6) e dos crentes, individual (Rm 16.13; 2 Jo 1.1,13) ou coletivamente (Rm 8.33; 1 Pe 2.9). Em nenhum ponto, contudo, a Bíblia ensina predestinação para condenação (reprovação), e não é necessário, pois todos pecaram e, sem a graça de Deus, estariam perdidos. Deus tomou a iniciativa quanto a:
a) O propósito de salvar – determinado antes da fundação do mundo (Ef 1.4; Rm 8.28; 2 Ts 2.13; 2 Tm 1.9). Deus, em Sua sabedoria, sabia que o homem pecaria, então juntamente com o propósito de criar, também determinou salvar.
b) O meio de salvação – a morte de Cristo (Ef 1.4,5). Todos os atos envolvidos (encarnação, crucificação, ressurreição, ascensão, retorno) foram planejados (Ap 13.8; At 2.23,24).
c) Os indivíduos salvos – Deus elegeu todos os que hão de ser salvos (Ef 1.4,5; Rm 8.28-30; 1 Pe 1.2; At 13.48; 2 Ts 2.13,14). Esta eleição foi feita segundo a presciência de Deus (Rm 8.29; Ef 1.4; 1 Pe 1.2). Não dependente da presciência, como um passo posterior, mas intrinsecamente ligada a ela. Em seu perfeito conhecimento, Deus sabe todas as coisas antes que elas aconteçam (Rm 4.17).
SEVERA cita Henry Thiessen para explicar a eleição na base da fé prevista por Deus, mas não uma fé comum, senão uma fé produzida pela graça divina: “como a humanidade está irremediavelmente morta em delitos e pecados e nada pode fazer para obter a salvação, Deus graciosamente restaura a todos os homens a capacidade suficiente para fazer a escolha na questão da submissão a ele. Esta é a graça salvadora de Deus que apareceu a todos os homens – Tt 2.11. Em Sua presciência, Ele tem consciência do que cada um vai fazer com esta capacidade restaurada, e, então, elege os homens para a salvação em harmonia com Seu conhecimento da escolha que fazem a respeito dEle”. Assim, tudo é pela graça (Jo 6.44; 16.8,9; Ef 2.8) – grifo nosso. É necessário fazer uma distinção entre a presciência e predestinação. Deus pode prever algo sem determinar que isso aconteça. Por exemplo, Deus previu a entrada do pecado no mundo, mas não determinou que isto acontecesse.
A responsabilidade humana, Deus deu às suas criaturas o livre-arbítrio (liberdade de ação). Todos reconhecem a liberdade com um bem (ninguém faz passeatas contra ela!). Contudo, esta liberdade de escolha moral acarreta tanto a escolha de fazer o bem quanto o mal. É bom ser livre, mas a liberdade torna o mal possível. Deus nos deu a liberdade, mas somos responsáveis pelos nossos atos livres. Alguns teólogos afirmam que o homem é livre apenas para fazer o que deseja, e como só deseja pecar, não é livre para fazer o bem, pois somente Deus dá o desejo para o bem. No entanto, seguindo este raciocínio, quem deu ao diabo e a Adão o desejo de pecar, visto que Deus os criou bons? Para não acusar Deus de haver criado o mal – algo impensável (Tg 1.13) -, temos que aceitar que o pecado é fruto da vontade das criaturas e, portanto o homem é livre para fazer algo além do que deseja (Rm 7.15,19; Gl 5.17), embora, por causa da queda, necessita da graça de Deus para fazer o bem. A Bíblia mostra que o homem fica livre e responsável por suas decisões (Lc 9.23; Ap 22.17). Somos responsáveis pelo que fazemos (Gl 6.7) Se os seres que Deus criou não puderem ser responsabilizados por suas escolhas certas, também não poderão ser responsabilizados pelas escolhas erradas. Assim, seríamos obrigados a aceitar a idéia de que o homem não foi responsável pela queda, como o diabo não foi responsável pelos seus erros, o que foge completamente à verdade. O homem tem a capacidade de fazer escolhas, embora precise da ação do Espírito Santo para reconhecer seu estado pecaminoso e aceitar a Cristo como seu Salvador. No plano geral de Deus, a obra de Cristo visa a todos (Gn 12.2; Mt 28.19,20; 1 Jo 2.1,2; Ef 3.6; 2 Pe 3.9, 1 Tm 2.3,4, Tt 2.11, Ez 33.11). Cristo morreu para oferecer a salvação a todo homem (Hb 2.9; At 17.30). Dentro desse plano vem a eleição, que inclui a liberdade e responsabilidade do indivíduo (Rm 2.12; Mt 11.20-24). Deus não faz acepção de pessoas (Rm 2.4-11, At 10.34). Desta maneira, não escolheria uns para salvação e outros para perdição, sem dar-lhes oportunidade de tomar uma decisão. O que leva o homem à perdição não é a falta de eleição, mas o pecado e a falha em não aceitar Jesus (Mc 16.16; Jo 3.18). O pecador não é salvo por crer, ou seja, pelo seu ato, mas pela graça de Deus, por meio da fé (Ef 2.8,9). Os crentes foram vistos antecipadamente em Cristo quando Deus os escolheu. Eles estavam em Cristo porque aceitaram pela fé a oferta da salvação que Ele fez.
Soberania divina x Livre-arbítrio humano. A soberania divina e o livre-arbítrio humano não são conceitos mutuamente excludentes. O direito de escolha do homem não anula o controle de Deus, pelo contrário, exalta-o. É preciso ser muito mais poderoso para manter o controle num universo de múltiplas escolhas do que num universo de “cartas marcadas”, onde tudo segue uma ordem previamente estabelecida, sem possibilidade de mudanças. Podemos ver esta ocorrência conjunta, do livre-arbítrio e da soberania, na morte de Cristo:
a) Deus determinou que Cristo morreria, antes da fundação do mundo (At 2.23)
b) Entretanto, Cristo afirma que se entregou (Jo 10.17,18)
c) Deus sabe tudo (Is 46.10, Sl 147.5)
d) Deus sabia que Jesus morreria (Ap 13.8, Jo 2.23)
e) Apesar disto, Jesus escolheu morrer. A salvação é pela fé, não pelas obras (Ef 2.8,9). E Cristo morreu para garantir a salvação a todo aquele que nele crer (Lc 13.3, Jo 3.16-18, At 16.31; 17.30). Se não fosse assim, não fazia sentido a pregação do evangelho, como Cristo mandou fazer (Mc 16.15). O homem tem o direito de escolha, dado por Deus. Assim, a criatura pode resistir ao chamado do Criador (Mt 23.37, At 7.51, Jo 1,11,12).
Portanto, a salvação também tem uma pequena participação humana: aceitar a oferta de Deus – a Salvação em Cristo. O homem tem poder sobre sua própria vontade (1 Co 7.37). Assim, o Espírito Santo conduz a Cristo somente aqueles que o permitem.
Importância desta doutrina. Se toda a iniciativa da salvação é de Deus, então pode gloriar-se de ser salvo, mas temer Aquele que o salvou (Rm 11.20,21). Se a salvação é oferecida a todos, desde que creiam e aceitem a Cristo, devemos pregar a Palavra de salvação a todos, a fim de salvar a muitos (1 Co 9.22). Somos como os leprosos que descobriram uma abundante benção que pode salvar a todos e não podemos ficar calados (2 Rs 7).
Obras consultadas:
DUFFIELD, Guy P.; VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal. São Paulo: Quadrangular, 2000. GEISLER, Norman. Eleitos, Mas Livres. São Paulo: Vida, 2001. HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 1996. SEVERA, Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemática. Curitiba: A.D.Santos, 1999. WILEY, H. Orton; CULBERTSON, Paul T. Introdução à Teologia Cristã. São Paulo: Casa Nazarena de Publicações, 1990.
Leitura: Rm 8.1-17
Adoção é um ato pelo qual Deus nos faz membros de Sua família. É um ato da graça soberana, pelo qual Ele nos concede todos os direitos, privilégios e obrigações da afiliação àqueles que aceitam a Jesus Cristo como salvador. O apóstolo João fala diversas vezes que somos filhos de Deus (Jo 1.12; 1 Jo 3.1,2). Paulo também afirma repetidamente esta verdade (Rm 8.14-17; Gl 3.26). O termo “adoção”, na sociedade de hoje, é o meio pelo qual um estranho pode tornar-se membro de uma família. O dicionário Aurélio assim define “adotar”: Atribuir (a um filho de outrem) os direitos de filho próprio; perfilhar, legitimar. Era comum entre os romanos, quando até mesmo um escravo podia tornar-se filho, passando a ter direito ao nome, às possessões e a posição do pai adotivo. O pai também tinha direito à propriedade absoluta do filho. Entretanto, este termo é empregado na Palavra de modo diferente, significando “colocar como filho”. Na experiência humana, o nascimento legítimo e a adoção nunca se misturam na mesma pessoa. Não há uma ocasião para um pai adotar seu próprio filho. Na esfera divina, todo filho nascido de Deus é adotado no momento em que nasce. Deus nos adota e nos faz participantes da Sua natureza (2 Pe 1.4; Hb 12.10).
A adoção no AT Deus apresentou-se no AT como Pai (Sl 103.13; Is 43.6,7; Ml 1.6; 2.10), mas foi somente quando Cristo veio e morreu por nós que os plenos benefícios e privilégios de ser membro da família de Deus ocorressem, dando o Espírito Santo o Seu testemunho em nosso espírito (Rm 8.16). O termo não ocorre no AT, mas vemos sua idéia ali (Pv 17.2). Vemos provavelmente o uso deste ato legal no caso de Moisés (Ex 2.10; Hb 11.24). Entre os judeus, podemos ver, possivelmente, que Abraão adotou Eliezer (Gn 15.2,3) e Mordecai adotou Ester (Et 2.15). Também era possível que um avô adotasse seus netos como filho, como no caso de Jacó, adotando Manassés e Efraim (Gn 48.5).
Como nos tornamos filhos de Deus? Pela fé em Jesus (Jo 1.12; Gl 3.26). Todos os homens são criaturas de Deus, mas somente aqueles que crêem em Cristo podem ser realmente chamados filhos. Somente através da fé no Filho de Deus, o homem pode retornar ao seu estado original de comunhão íntima com Deus: O Filho de Deus se tornou homem para que os homens pudessem tornar-se filhos de Deus. As Escrituras não associam a adoção com a regeneração, o novo nascimento, mas com a fé em Cristo, ou seja, Deus nos aceita em Sua família em resposta à nossa fé. A adoção ocorre ao mesmo tempo que a justificação e a regeneração, mas na ordem do pensamento aparece depois, sendo também independente da justificação. Deus poderia nos perdoar sem adotar-nos, mas Ele é tão maravilhoso que nos torna membros de sua própria família. A regeneração tem a ver com a nossa vida espiritual interior, a justificação com nossa posição diante de Deus e a adoção com a nossa comunhão íntima com Deus como nosso Pai. Se Deus tivesse apenas perdoado os nossos pecados e nos resgatado, já seria muito mais do que merecíamos, mas seríamos apenas seus servos. Mas agora somos adotados por Ele para sermos mais que servos: somos Seus filhos! Não temos com Deus apenas uma relação de temor, mas de íntima comunhão. A adoção foi planejada “antes da fundação do mundo” (Ef 1.4,5), nos alcança no presente (Rm 8.15) , mas será plenamente realizada na ressurreição dos mortos (Rm 8.23). Temos uma bela ilustração desta condição dos filhos de Deus na vida de Mefibosete (2 Sm 9). Ele era filho de Jônatas, não de Davi. Era aleijado, desgraçado, sem herança e sem direitos. Reconheceu-se como servo de Davi, mas por causa da aliança que o Rei fizera, passou a comer à mesa “como um dos filhos do Rei” (v11). Davi restituiu-lhe a herança, os servos, a terra e a sua posição no palácio real, tirando-lhe da condição de “cão morto” para a posição de príncipe. Deus é aquele que nos tira do monturo, nos dá um lugar entre os príncipes e nos dá uma família (Sl 113.7-9).
Evidência da adoção:
a) O impulso íntimo que nos impele a considerar Deus como nosso Pai (Rm 8.15);
b) O testemunho do Espírito Santo (Rm 8.15,16; Gl 4.6; 1 Jo 5.10), que corrobora com o nosso espírito;
c) A comunhão existente entre nós, o Pai e o Filho, num contato espiritual genuíno (1 Jo 1.3); d) A comunhão criada entre os crentes, como uma família (1 Jo 1.7; Ef 2.19).
Benefícios da adoção: Ao longo da história humana, existiram muitos imperadores e reis que se consideraram verdadeiros “donos do mundo”. Seus filhos certamente gozaram de muitos benefícios. Mas os que aceitam a Jesus são verdadeiramente filhos do Senhor do universo e são muitos os benefícios de sermos Seus filhos. Alguns deles são:
a) Pertencer à família de Deus (Ef 3.15; Hb 2.11; Mt 12.49; 25.40; Jo 20.17).
b) Podermos tratar Deus como nosso Pai (Mt 6.9) e não somente como Senhor (Gl 6.7). Ele nos entende (Sl 103.13,14) e cuida de nós como um Pai (Mt 6.32).
c) Sermos feitos herdeiros (Rm 8.17; Gl 4.7; 1 Pe 1.4). Tudo o que é de Cristo é nosso (1 Co 3.21,23; Lc 15.29-31). Temos um reino (Lc 12.32), uma pátria superior (Hb 11.16), uma coroa de vida (Tg 1.12) e um eterno peso de glória (2 Co 4.17). d) Ter a confiança de fazer parte da família dos salvos, sem medo (Rm 8.15).
e) Ter o privilégio de sermos guiados pelo Espírito Santo (Rm 8.14). f) Sermos disciplinados por Ele (Hb 12.5,6,7,10).
g) Ter, já no tempo presente, a assistência dos anjos (Hb 1.14). h) Ter uma comunhão mútua, com os irmãos, mais íntima que há entre os anjos (At 15.36; 1 Tm 5.1,2) i) Ter, no porvir, a glória, um corpo glorioso (Rm 8.17,23). Obrigações da Adoção: O fato de sermos filhos de um Pai tão especial nos traz também algumas obrigações: a) Devemos imitar nosso Pai (Ef 5.1; 1 Pe 1.14-16; Lc 6.35; Mt 5.44-48). b) Devemos honrar e glorificar nosso Pai (Mt 5.16; Fp 2.15; 1 Jo 3.10; 1 Pe 2.12).
Obras consultadas:
CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 6ª edição. São Paulo: Hagnos, 2002.
DUFFIELD, Guy P.; VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal. São Paulo: Quadrangular, 2000.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
WILEY, H. Orton; CULBERTSON, Paul T. Introdução à Teologia Cristã. São Paulo: Casa Nazarena de Publicações, 1990.
A Habitação de Deus no Cristão
Leitura: Jo 14.23
Esta é uma doutrina de enorme significado para os cristãos. Paulo orou para que Cristo habitasse no coração dos efésios (Ef 3.17). Ela está inserida num contexto maior, que trata da união mística do crente com Cristo, pela qual nós estamos nEle e com Ele, Ele está em nós e nós vivemos como imitadores dEle. A maior dificuldade que encontramos para compreender esta doutrina é o contraste entre a santidade de Deus e a pecaminosidade do homem.
A santidade de Deus Deus é Santo e quer que seus filhos o sejam também (1 Ts 4.3). Santidade é uma característica fundamental de Deus; um atributo Seu. Os serafins declaram isto (Is 6.3). Jesus o chama de “Pai Santo” (Jo 17.11). A principal característica da essência de Deus é a sua santidade. Ele é santo (Hb 3.3). A santidade é o atributo de Deus, enquanto separado e elevado acima de tudo o que é comum e criado (Is 40.25). A casa de Deus é santa (Sl 93.5). O Lugar onde Deus está se torna santo (Ex 3.5; Js 5.15).
A pecaminosidade do homem Todos os homens pecaram, estão debaixo do pecado (Rm 3.23,9). Não há nenhum justo sobre a terra (Ec 7.20). Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e chamamos Deus de mentiroso (1 Jo 1.8,10). Entretanto, a Bíblia afirma claramente que Deus (Pai, Filho e Espírito Santo) habita no crente em Jesus (Jo 14.17, 23).
A Habitação de Deus Desde o início, Deus visitava o homem (Gn 3.8). Depois, Deus mandou construir o tabernáculo, para estar entre Seu povo, manifestando Sua glória (Ex 40.34). O Espírito Santo, no AT, vinha sobre os homens (Jz 3.10), se apossava deles (Jz 14.19; 1 Sm 11.6), mas efetivamente, não habitava em seus corpos. No NT, Cristo veio e habitou entre nós (Jo 1.14) e fez a promessa de habitar em cada homem que cresse nele. Esta doutrina é de suma importância, pois tudo o que o crente possui no aspecto espiritual está firmado no fato de que Cristo está nele. Cristo está pessoalmente em nós e não apenas seus ensinos ou idéias. Pelo Espírito Santo, somos habitados pelo próprio Deus. Esta presença de Deus em nós não é metafísica, como no conceito panteísta, mas pessoal. Ele está em nós e permanece pela fé (Ef 3.17; 2 Co 13.5). O apóstolo Paulo considera a habitação de Cristo um rico mistério: “Cristo em vós, a esperança da glória” (Cl 1.27). Ele diz que Cristo vive nele (Gl 2.20). Afirma também que nosso corpo é santuário do Espírito Santo (1 Co 3.16,17; 6.19; 2 Co 6.16; Ef 2.20-22), onde Ele habita. Através da união com Cristo, a vida de Deus flui para dentro de nós (Rm 12.2; 2 Co 4.16; Rm 8.11). Esta união é efetuada pela morada do Espírito Santo, sendo uma união espiritual (1 Co 6.17; Rm 8.9,10). Diante deste conhecimento, devemos perguntar: Que tipo de habitação agrada a Deus? Como deve ser a nossa natureza para que Ele possa sentir-se em casa quando estiver em nós? O Espírito Santo que habita em nós tem ciúmes. Aqueles que são amigos do mundo se tornam inimigos de Deus (Tg 4.4,5) O Espírito Santo que habita em nós nos ajuda nas nossas fraquezas e intercede por nós (Rm 8.26,27). O Espírito Santo que habita em nós nos garante a filiação divina (Gl 4.6). Cristo em nós é o que nos justifica: quando Deus olha para nós, não vê um Deus santo e um homem pecador, mas uma unidade que é justa. A habitação de Deus no homem é que o torna santo, espiritual, contrastando com o homem carnal (Rm 8.9). A habitação de Deus determina quem é realmente cristão (Rm 8.10; 2 Co 13.5; Ap 3.20). A habitação de Deus nos dá um senso de dependência, o que nos chama à humildade: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes (Tg 4.6) A habitação de Deus nos enche de amor (1 Jo 4.16). A habitação de Deus nos torna vencedores (1 Jo 4.4) A habitação de Deus nos torna produtivos (Jo 15.5). A habitação de Deus nos capacita a guardarmos Seus mandamentos (1 Jo 3.24). A habitação de Deus nos capacita mantermos a unidade da fé (Jo 17.21-23). Devemos considerar este fato, cada minuto de nossas vidas: Deus habita em nós. Devemos ir aonde Ele iria, fazer as coisas que Ele faria, falar o que Ele falaria, pois Ele está em nós. Ainda que enfrentemos dificuldades, não devemos temer, pois Ele está conosco (Sl 23.4).
Obras consultadas: CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 6ª edição. São Paulo: Hagnos, 2002.
DUFFIELD, Guy P.; VAN CLEAVE, Nathaniel M. Fundamentos da Teologia Pentecostal. São Paulo: Quadrangular, 2000.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
WILEY, H. Orton; CULBERTSON, Paul T. Introdução à Teologia Cristã. São Paulo: Casa Nazarena de Publicações, 1990.
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